Elsa Lìma

Autoestima

Amor Próprio: Como Construir em Tempos de Crise? Amor próprio e autocuidado são temas amplamente discutidos, especialmente em tempos de crise. Momentos de incerteza e estresse, como a pandemia de COVID-19, trouxeram à tona desafios emocionais e psicológicos que antes não eram tão evidentes. A sensação de desamparo, isolamento e a perda de controle sobre aspectos fundamentais da vida afetaram profundamente o bem-estar emocional. Nesse contexto, o amor próprio torna-se uma ferramenta essencial para enfrentar adversidades e manter a saúde mental equilibrada. Mas como podemos cultivar o amor próprio em tempos de crise?

O que é o Amor Próprio?

O conceito de amor próprio está intimamente ligado à autocompaixão. Segundo Germer (2009), a autocompaixão envolve tratar a si mesmo com o mesmo cuidado e compreensão que se ofereceria a um amigo em um momento de dificuldade. Em vez de criticar a si mesmo quando se sente inadequado, é necessário adotar uma postura acolhedora e gentil.

A autora hooks (2001) reforça que o amor próprio é sinônimo de autocompaixão, que requer reconhecer que todos cometem erros e que a imperfeição faz parte da experiência humana. Essa autocompaixão, que Beltzner (2019) descreve como um equilíbrio delicado entre reconhecer os erros e aceitar as emoções que surgem, é um componente essencial do amor próprio. Quando enfrentamos crises, essa habilidade torna-se fundamental.

Desafios Durante a Crise

Durante a pandemia de COVID-19, muitas pessoas enfrentaram o impacto devastador da perda de emprego, isolamento social, medo e incerteza. Nesse cenário, cuidar de si mesmo parecia um desafio impossível. Antes da pandemia, muitos de nós tínhamos rotinas de autocuidado estabelecidas: equilibrávamos vida pessoal e profissional, nos exercitávamos, praticávamos momentos de reflexão e mantínhamos uma alimentação saudável. No entanto, com a chegada da pandemia, esses rituais foram interrompidos, e o autocuidado passou a ser uma prática mais difícil de manter.

O isolamento social imposto pela crise trouxe consigo um aumento significativo da solidão e da ansiedade. Sem a possibilidade de encontros presenciais, muitos sentiram a falta de conexão humana, o que afetou negativamente a saúde mental. Mesmo que estivéssemos fisicamente distantes, não precisávamos nos distanciar emocionalmente, como sugere Banks (2016). A empatia, tanto para com os outros quanto para consigo mesmo, tornou-se um mecanismo poderoso para manter a resiliência emocional.

A Importância da Autocompaixão em Tempos de Crise

A prática de mindfulness, que envolve a atenção plena ao momento presente, foi amplamente utilizada como uma ferramenta para enfrentar os desafios emocionais trazidos pela pandemia (Kabat-Zinn, 1990). Essa prática ajuda a desenvolver a autoconsciência e a capacidade de reflexão crítica, o que, por sua vez, contribui para a construção de uma mentalidade resiliente.

Quando praticamos o mindfulness, aprendemos a observar nossas emoções e pensamentos sem julgamento, aceitando-os como parte da nossa experiência. Isso é crucial para desenvolver o amor próprio, pois nos ajuda a perceber que todos têm momentos de fraqueza e que é natural cometer erros. Durante a crise, ao sermos compassivos conosco mesmos, criamos um espaço de cura e fortalecimento interior, permitindo que enfrentemos as adversidades de forma mais equilibrada.

Amor Próprio em Ação

O amor próprio não é um conceito abstrato; ele se manifesta em ações cotidianas. Em tempos de crise, essas ações podem incluir pequenos gestos de autocuidado que ajudam a aliviar o estresse e a ansiedade. Isso pode significar reservar alguns minutos do dia para respirar profundamente, praticar exercícios físicos em casa, ou até mesmo desconectar-se das notícias para evitar sobrecarga de informações negativas.

Além disso, o autocuidado emocional é fundamental. Ele envolve reconhecer e validar nossas emoções, sem reprimi-las. Em vez de nos culparmos por sentir medo ou tristeza, devemos reconhecer que esses sentimentos são normais em tempos de crise. Ao fazer isso, desenvolvemos uma relação mais saudável conosco, cultivando o amor próprio e fortalecendo nossa capacidade de enfrentar desafios.

Conectando-se com a Humanidade Comum

Um dos componentes essenciais do amor próprio é reconhecer nossa humanidade comum. Como explica Rowland e Curry (2019), ao praticar a gentileza e o amor para consigo mesmo, também estamos conectando-nos com a experiência humana universal. Todos nós, em algum momento, enfrentamos dificuldades, e é importante lembrar que não estamos sozinhos em nossas lutas.

Durante a pandemia, muitas pessoas sentiram o peso do isolamento e da desconexão. No entanto, ao praticarmos a autocompaixão, lembramos que a vulnerabilidade e o sofrimento são experiências compartilhadas por todos. Essa compreensão pode trazer conforto e nos ajudar a enfrentar a crise com mais leveza, sabendo que não precisamos ser perfeitos e que o crescimento muitas vezes surge dos momentos mais difíceis.

Como Construir o Amor Próprio em Tempos de Crise?

Agora que entendemos o que é o amor próprio e sua importância em tempos de crise, como podemos construí-lo? Aqui estão algumas práticas que podem ajudar:

  1. Pratique a Autocompaixão: Em vez de criticar a si mesmo por suas falhas ou limitações, pratique a gentileza. Pergunte-se: “Como eu trataria um amigo nesta situação?” e aplique essa mesma abordagem consigo.
  2. Abrace Suas Emoções: Em momentos de crise, é comum sentir uma variedade de emoções intensas. Em vez de reprimir ou ignorar esses sentimentos, permita-se senti-los. Isso é um ato de amor próprio.
  3. Crie Rotinas de Autocuidado: Mesmo que a vida esteja cheia de incertezas, tente manter pequenas rotinas de autocuidado. Pode ser um momento de meditação, um banho relaxante, ou simplesmente um tempo para fazer algo que você goste.
  4. Cultive o Mindfulness: A prática da atenção plena pode ajudar a reduzir o estresse e aumentar a autoconsciência. Reserve um tempo para se conectar com o momento presente e praticar a gratidão pelo que você tem.
  5. Busque Conexões Emocionais: Embora o distanciamento social possa ser necessário, não se isole emocionalmente. Busque manter contato com amigos e familiares, nem que seja virtualmente. A conexão humana é essencial para o bem-estar.

O Futuro do Amor Próprio

À medida que enfrentamos crises e desafios contínuos, o amor próprio torna-se uma habilidade vital para preservar nossa saúde mental e emocional. O cultivo da autocompaixão nos permite lidar com momentos difíceis de forma mais equilibrada e resiliente. Quando cuidamos de nós mesmos com amor e gentileza, criamos uma base sólida para enfrentar qualquer tempestade que possa surgir.

Amar a si mesmo em tempos de crise é um ato de resistência. Em vez de sucumbir ao desespero ou à autocrítica, escolhemos nos nutrir com gentileza e compaixão. Afinal, como bem disse Desmond (2015), o amor próprio é a chave para enfrentar as imperfeições da vida e transformá-las em oportunidades de crescimento e aprendizado.

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Referências:

Gates, Trevor G., et al. “Teaching mental health and well-being online in a crisis: Fostering love and self-compassion in clinical social work education.” Clinical Social Work Journal 50.1 (2022): 22-34.

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