Por que ansiedade dá dor de barriga?
Você já sentiu um “frio na barriga” antes de uma situação estressante? Ou, em momentos de grande preocupação, experimentou dores abdominais inexplicáveis? A conexão entre ansiedade e dor abdominal é comum e tem uma explicação científica que envolve a interação entre o cérebro, o intestino e o sistema nervoso.
Neste artigo, exploraremos as razões pelas quais a ansiedade pode causar dor abdominal, à luz de pesquisas recentes, e entenderemos como a saúde mental afeta fisicamente nosso corpo.
O Cérebro e o Intestino: Uma Via de Mão Dupla
O cérebro e o intestino estão conectados de maneira mais profunda do que parece. Essa ligação é mediada pelo sistema nervoso entérico, conhecido como “segundo cérebro,” que se comunica diretamente com o cérebro por meio do nervo vago, criando uma via de mão dupla: o que acontece no cérebro afeta o intestino e vice-versa.
Quando sentimos ansiedade ou passamos por situações estressantes, o cérebro envia sinais de alerta ao intestino, provocando respostas como aceleração do trânsito intestinal, cólicas, inchaço ou desconforto abdominal. Estudos sugerem que o intestino é um dos primeiros lugares no corpo a reagir aos sinais de ansiedade, confirmando a forte relação entre os dois sistemas .
A Conexão entre Ansiedade e Dor Abdominal
Estudos mostram que a ansiedade está frequentemente associada a dores abdominais funcionais — ou seja, dores sem uma causa física evidente. Um exemplo disso é o estudo conduzido por Shelby et al. (2013), que investigou crianças e adolescentes com dor abdominal funcional (FAP) e seu risco a longo prazo de desenvolver transtornos de ansiedade. A pesquisa revelou que pessoas que sofreram de dores abdominais na infância e adolescência tinham maior probabilidade de desenvolver ansiedade na vida adulta, mesmo que a dor abdominal tivesse desaparecido .
Além disso, o estudo indicou que o risco de desenvolver transtornos de ansiedade ao longo da vida foi significativamente maior entre aqueles com histórico de FAP (51%) comparado aos controles (20%). Isso sugere que a dor abdominal pode ser um sinal precoce de problemas de saúde mental .
A Ansiedade e o Eixo Hipotálamo-Pituitária-Adrenal (HPA)
Quando estamos ansiosos, o corpo entra em “modo de luta ou fuga,” uma resposta natural ao estresse que envolve a ativação do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA). Isso resulta na liberação de cortisol, o hormônio do estresse, que prepara o corpo para enfrentar uma ameaça.
O aumento de cortisol pode afetar diretamente o sistema digestivo, diminuindo a circulação sanguínea no trato gastrointestinal e alterando os movimentos musculares intestinais. Essas mudanças podem provocar sintomas como náuseas, diarreia, dor abdominal e constipação. Means-Christensen et al. (2008) mostraram que pacientes com transtornos de ansiedade ou depressão eram até 10 vezes mais propensos a relatar dores físicas, incluindo dores abdominais, em comparação com pacientes sem esses transtornos .
Memórias Genéticas e a Ansiedade
Outro fator interessante é o papel das memórias genéticas na perpetuação da ansiedade e da dor abdominal. Estudos sugerem que experiências traumáticas podem ser transmitidas geneticamente às gerações futuras. Isso significa que filhos de pais que vivenciaram estresse intenso ou trauma podem herdar uma predisposição maior para desenvolver ansiedade, que pode se manifestar como dor abdominal .
O Papel da Ansiedade no Desenvolvimento de Transtornos Gastrointestinais
A conexão entre ansiedade e dor abdominal vai além dos sintomas temporários. Pessoas que sofrem de ansiedade crônica têm maior probabilidade de desenvolver distúrbios gastrointestinais funcionais, como a síndrome do intestino irritável (SII). Na SII, o intestino se torna hipersensível e episódios de ansiedade podem desencadear crises, provocando dores abdominais intensas e alterações no funcionamento intestinal.
O estudo de Nilsen et al. (2023) também reforça essa relação, mostrando que a depressão está associada a dores de cabeça e musculoesqueléticas em crianças, enquanto a ansiedade tem um impacto menor nesses tipos de dor . Isso sugere que, embora a dor abdominal possa ser um indicador de sofrimento emocional, dores de cabeça e musculares também estão relacionadas ao estado mental da pessoa.
Como Aliviar a Dor Abdominal Relacionada à Ansiedade
Embora a dor abdominal associada à ansiedade possa ser debilitante, existem maneiras eficazes de gerenciá-la. Técnicas de relaxamento, como meditação e respiração profunda, podem ajudar a reduzir a ansiedade e, consequentemente, aliviar a dor abdominal. A terapia cognitivo-comportamental (TCC) também tem se mostrado eficaz no tratamento da ansiedade, promovendo a saúde digestiva.
Praticar exercícios físicos regularmente, adotar uma dieta equilibrada e manter um bom padrão de sono são fatores essenciais para regular a saúde mental e digestiva. Em casos mais graves, o acompanhamento médico especializado é fundamental para garantir que a dor abdominal seja adequadamente diagnosticada e tratada.
Conclusão
A ansiedade pode se manifestar de várias maneiras no corpo, e a dor abdominal é uma das manifestações físicas mais comuns. A interação entre o cérebro e o intestino, mediada pelo sistema nervoso e influenciada pelo estresse, é fundamental para entender essa relação.
Compreender a conexão entre a ansiedade e a dor abdominal nos ajuda a lidar melhor com os sintomas e buscar tratamentos adequados, promovendo o equilíbrio entre a mente e o corpo. Afinal, o bem-estar mental é essencial para manter uma boa saúde física.
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