Elsa Lìma

Como a hipnose pode ajudar a esquecer uma pessoa

Como a Hipnose Pode Ajudar a Esquecer Uma Pessoa?

A hipnose é amplamente conhecida por suas aplicações terapêuticas, mas um dos seus usos mais intrigantes é sua capacidade de induzir o esquecimento de memórias específicas ou experiências traumáticas. Esse fenômeno, chamado de amnésia hipnótica, desperta o interesse tanto de pesquisadores quanto de clínicos, especialmente no tratamento de traumas e dores emocionais intensas, como o término de um relacionamento.

Você já imaginou poder “esquecer” certos eventos da sua vida que trazem dor ou sofrimento? Embora o conceito pareça retirado de um filme de ficção científica, a amnésia hipnótica oferece uma abordagem real e baseada em evidências para ajudar as pessoas a lidar com memórias difíceis. Mas como esse processo realmente funciona? E quão eficaz é comparado a outros métodos de esquecimento? Vamos explorar essas questões com base em pesquisas recentes e estudos de longa data.

O Que é a Amnésia Hipnótica?

A amnésia hipnótica refere-se à incapacidade temporária de acessar certas memórias ou informações depois de uma sugestão feita sob hipnose. Não se trata de apagar permanentemente as memórias, mas de bloquear temporariamente seu acesso, o que pode oferecer um alívio significativo em situações de dor emocional intensa. Após a sugestão hipnótica, a pessoa pode esquecer nomes, eventos específicos, ou até mesmo certas habilidades – tudo dependendo da sugestão dada durante a sessão.

A ideia de usar a hipnose para induzir esquecimento se baseia em um mecanismo chamado inibição de recuperação, que é o processo de bloquear a capacidade do cérebro de acessar uma memória armazenada. Esta inibição de recuperação também ocorre em estados não-hipnóticos, como no processo de esquecimento direcionado, quando decidimos deliberadamente esquecer algo desconfortável. A amnésia hipnótica, no entanto, vai além de uma tentativa consciente de esquecer e utiliza mecanismos cognitivos mais profundos para induzir essa inibição.

Como Funciona o Processo de Esquecimento?

A hipnose atua em áreas do cérebro responsáveis pela memória e processamento emocional, como o hipocampo e a amígdala. Quando uma sugestão hipnótica é dada para esquecer um evento, o cérebro “desconecta” temporariamente o acesso àquela memória específica, como se ela estivesse fora do alcance consciente. No entanto, essa memória não é destruída – ela continua lá, apenas inacessível até que um gatilho apropriado a traga de volta.

Este processo é reversível, o que é uma característica importante da amnésia hipnótica. Quando uma sugestão contrária é feita ou um sinal apropriado é dado (conhecido como “gatilho de recuperação”), as memórias esquecidas podem voltar com a mesma clareza que tinham antes da hipnose. Isso distingue a amnésia hipnótica de outras formas de esquecimento, como a repressão, em que a recuperação da memória pode ser muito mais difícil e dolorosa.

Comparando Hipnose com Outros Métodos de Esquecimento

A hipnose oferece uma abordagem única para o esquecimento, mas como ela se compara a outros métodos mais tradicionais, como o esquecimento direcionado? Ambos os métodos envolvem a inibição de recuperação, mas há diferenças significativas na forma como cada um opera.

O esquecimento direcionado é um processo em que uma pessoa conscientemente decide não prestar atenção a certas informações ou memórias para que elas eventualmente se tornem menos acessíveis. Embora eficaz em alguns casos, ele depende fortemente de um esforço consciente e pode não funcionar com eventos emocionalmente carregados ou traumáticos.

A hipnose, por outro lado, atua em um nível mais profundo. Estudos, como o de Kihlstrom et al. (1983), mostram que indivíduos altamente suscetíveis à hipnose demonstram maior eficácia na amnésia hipnótica do que na tentativa consciente de esquecer. Isso se deve ao fato de que a hipnose reduz a atividade do córtex pré-frontal, que é a parte do cérebro responsável pelo pensamento consciente e deliberado, permitindo que memórias dolorosas sejam bloqueadas de forma mais eficaz.

O Papel da Suscetibilidade Hipnótica

A eficácia da hipnose para induzir esquecimento depende em grande parte da suscetibilidade hipnótica de cada indivíduo. Pessoas com alta suscetibilidade, ou seja, aquelas que são mais propensas a seguir sugestões hipnóticas, tendem a experimentar amnésia hipnótica de maneira mais pronunciada. Já indivíduos com baixa suscetibilidade podem não experimentar os mesmos benefícios. Isso não significa que a hipnose seja inútil para essas pessoas, mas sim que outras abordagens podem ser necessárias para induzir o esquecimento.

Em um estudo de Coe et al. (1989), descobriu-se que indivíduos altamente suscetíveis apresentaram respostas típicas ao esquecimento direcionado em estados não-hipnóticos, mas essas respostas mudaram drasticamente quando estavam sob hipnose, reforçando a ideia de que o contexto hipnótico e a suscetibilidade individual desempenham um papel crucial nos resultados.

Implicações Forenses: Cuidado com as Falsas Memórias

Apesar das promessas da hipnose no tratamento de traumas e no alívio emocional, há uma área onde a hipnose exige precaução: o uso forense. Dywan et al. (1983) alertam para os riscos da hipnose em contextos legais, especialmente devido à possibilidade de falsas recordações. Essas memórias podem acontecer, principalmente, em uma sessão de Regressão. Por isso, para um processo seguro de Regressão, é importante um acompanhamento profissional de um Hipnoterapeuta.

Conclusão: A Hipnose como Ferramenta Terapêutica Poderosa

A amnésia hipnótica pode ser uma ferramenta poderosa para aqueles que sofrem de traumas emocionais ou que desejam superar memórias dolorosas. Com base em décadas de pesquisa, fica claro que a hipnose pode atuar em níveis profundos do cérebro, bloqueando temporariamente o acesso a memórias difíceis e oferecendo alívio.

No entanto, é importante ressaltar que a hipnose deve ser usada com cautela, especialmente em contextos legais, devido ao risco de falsas memórias. Para indivíduos com alta suscetibilidade hipnótica, a amnésia hipnótica pode ser particularmente eficaz e proporcionar um caminho para a cura emocional.

Para mais detalhes e acesso às fontes utilizadas, veja os seguintes estudos:

  1. Geiselman, R., et al. Journal of Experimental Psychology: Learning, Memory, and Cognition, 1983.
  2. Kihlstrom, J., et al. Journal of Experimental Psychology: General, 1983.
  3. Coe, W. C., et al. Journal of Personality and Social Psychology, 1989.
  4. Dywan, J., et al. Science, 1983.

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